Músicos de rua: Luzes e sombras sobre uma prática social contemporânea no Rio de Janeiro e em Barcelona
Palavras-chave:
Músicos de rua, Prática social, Ocupação do espaço público, LazerSinopse
Com o objetivo de compreender a prática dos músicos de rua, que tocam em duas cidades turísticas, Rio de Janeiro e Barcelona, a presente pesquisa mergulhou no universo cotidiano desses músicos. Encontrar músicos de rua, tocando pelas cidades turísticas, é uma cena comum e, para compreender essa dinâmica social, foi preciso considerar alguns eixos que nortearam a pesquisa: a ocupação de espaços públicos com práticas sociais que reivindicam o direito à cidade e ressignificam as ruas como espaços vivos de encontros e confrontos; a idealização estética das cidades que, muitas vezes, choca-se com o uso diversificado dos espaços pelos sujeitos, provocando disputas pelas formas de ocupações e revelando o jogo de forças entre o Estado, o sujeito e a sociedade na apropriação dos espaços; o desenvolvimento das tecnologias da informação e da comunicação que, deflagrando a compressão do tempo-espaço, gera transformações nas relações sociais em várias esferas da vida humana, entre elas o trabalho e o lazer. Com abordagem qualitativa, essa pesquisa etnográfica desenvolveu-se entre dezembro de 2014 a dezembro de 2016, sendo dedicados 12 meses em cada cidade. Realizadas 23 entrevistas semiestruturadas, a análise interpretativa dos dados se deu, sobretudo, pela tensão entre o que foi observado no trabalho de campo, as regulamentações políticas, os planejamentos estratégicos e o que foi relatado nas entrevistas pelos sujeitos. A perspectiva crítica ao sistema capitalista contemporâneo se fez presente a partir da percepção de que a música de rua, apropriada pela estetização das cidades turísticas, tenta transformar uma parte sensível das metrópoles em mercadoria para consumo, impondo, a uma prática social milenar, condições precarizadas de (sobre)vivência pela arte. Os espaços públicos, quando regulados, apresentam uma perspectiva higienista com intenções privativas para a ocupação, tensionando, assim, a apropriação das ruas pelas artes como expressão dos sujeitos. Por fim, a compreensão de que, por mais que esses sujeitos estejam envolvidos e pressionados por todo processo estético que abarca o mundo contemporâneo, em especial os músicos das cidades turísticas, essa prática social resiste como possibilidade de expressão desses músicos pelo seu fazer artístico marginal. Ao escorregar pelas brechas do sistema homogeneizador, transgredindo os códigos e as hierarquias postulados, os músicos de rua mantêm viva uma prática social que sensibiliza as cidades.
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